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1. Aposta na Formação: alternativa a uma educação fracassada ou um novo paradigma de Qualificação dos Recursos Humanos?

Para alguns, a ênfase que vem sendo colocada na Formação Profissional, enquanto aposta estratégica e via incontornável para a modernização das economias e o fomento da empregabilidade, não deixa de representar a confissão implícita de um fracasso ou, ao menos, de uma crise monumental: a crise dos sistemas educativos.

Na verdade, entendem, a Educação de sucesso implica e envolve preparação para o exercício de uma profissão, ou seja, tem como fim último a Formação Profissional. Nesta perspectiva, a necessidade de criar um sistema de Formação Profissional dever-se-á ao facto de que o sistema educativo não satisfaz às demandas da economia e da sociedade, não preparando adequadamente para a vida activa…

Realmente, na sua concepção mais avançada, a Educação é um processo através do qual os indivíduos, através do acesso ao conhecimento e ao saber, adquirem competências para a vida. Daí que, facilmente, se dê conta de que a educação implica a formação. Assim o foi desde o surgimento da sociedade humana, havendo mesmo quem defenda que a educação-formação está na origem do surgimento do próprio homem como entidade distinta dos restantes animais. A luta conjunta dos homens primitivos para a sobrevivência; a invenção de signos linguísticos e sua utilização na comunicação; a descoberta e a utilização do fogo (para alimentação, aquecimento, iluminação, etc.), a descoberta e a prática da agricultura e da pecuária – tais são alguns factos históricos que, tendo conduzido à promoção da humanidade, só foram possíveis através da praxe educacional, que há de prosseguir, por via da tradição, de geração para geração…

Hodiernamente, as teses mais avançadas sobre a educação convergem no sentido de que uma educação pautada pela excelência tem que cumprir cinco funções essenciais, que desenvolvemos noutro local, a saber:
a) Desenvolver intelectual, moral e socialmente os alunos, sejam eles crianças ou adultos;
b) Promover o desenvolvimento da cultura geral;
c) Desenvolver e promover a aquisição de mecanismos ou automatismos básicos de aprendizagem; d) Formar e capacitar para a vida activa e para o exercício da cidadania;e) Promover a orientação vocacional e preparar os cidadãos para o exercício de uma profissão.

A última função da educação reconduz-nos à questão inicial: a formação profissional será componente ou corolário de uma educação bem sucedida.

As políticas de educação e de formação, concebidas e implementadas por departamentos governamentais diferentes, têm levado, amiúde, à exacerbação das disparidades entre a educação e a formação, quando as mesmas não podem ser consideradas como mundos à parte, “a se”, mas sim como actividades afins ou, no mínimo, absolutamente complementares.

As acções e medidas de política no sentido de se promover uma articulação estreita entre a educação e a formação; as reformas conducentes à criação de condições para que o chamado sistema de ensino formal, sobretudo a nível secundário ou pós-secundário, desenvolva a componente da formação técnicoprofissional; o estabelecimento de mecanismos de transição e de de equivalências entre o sistema formal de ensino e o sistema de formação profissional – tais são algumas das opções de políticas públicas que traduzem um novo paradigma de abordagem da problemática de qualificação dos recursos humanos.

É esse o paradigma adoptado em Cabo Verde.

À luz desse paradigma, importa que se avance em duas direcções que não são opostas mas convergem no mesmo sentido:

Por um lado, importa que as reformas educativas aprofundem o significado pleno da abordagem por competências, fazendo com que as escolas, no desenvolvimento da acção educativa, saibam:

- Aliar o saber universal ao conhecimento aprofundado e progressivo da realidade em que os educandos se inserem e que deverão transformar;

- Assegurar a ligação entre a teoria (o conhecimento científico), a pesquisa e a prática, relevando a utilidade, a validade e pertinência social dos saberes;

- Potenciar a inovação e a aprendizagem social;

- Colocar, em suma, a necessária ênfase nas seguintes regras de ouro da aprendizagem que são “aprender a aprender”, “aprender a ser”, “aprender a empreender” e “aprender a desaprender”!...

Por outro lado, o sistema de formação profissional, que se orienta no sentido do desenvolvimento da capacidade empreendedora dos indivíduos, deve articular-se com o sistema educativo, quer na perspectiva da transição entre os dois sistemas, quer no sentido da complementaridade de ambos…

A esta luz, a formação profissional apresenta-se como uma opção ou uma via credível para o sucesso dos indivíduos, tanto no plano pessoal como no social …

2. As parcerias e sua relevância na Formação Profissional

As parcerias nacionais e internacionais, nas suas diversas combinações (parcerias entre organizações públicas; parcerias entre entidades privadas e parcerias entre organizações públicas e privadas) encontram-se muito em voga, na actualidade.

Em Cabo Verde, as parceiras público-privadas, que se assentam numa tradição secular em processo de profunda mutação (o chamado “djunta mó”) não resultam apenas de uma tomada de consciência (porventura tardia) de que é impossível aos poderes públicos, de forma isolada, fazerem face e com sucesso, aos desafios inerentes ao processo de transformação e de desenvolvimento do país.

Tais parcerias constituem, na verdade, uma exigência natural do processo de desenvolvimento, só possível se assumido pela sociedade, no seu todo…

No domínio da formação profissional, as parcerias (envolvendo o Estado, as autarquias, as empresas, os formandos e outras entidades) estão largamente acolhidas no ordenamento jurídico e têm estado presentes em diversos programas e projectos de governação e de gestão empresarial. Este facto deriva do reconhecimento da necessidade da Formação Profissional, enquanto via incontornável para que, mediante a transformação do homem cabo-verdiano em capital humano, se alcancem objectivos estratégicos, a saber:

a) Desenvolver a capacidade empreendedora da sociedade;
b) Garantir a performance da economia;
c) Promover o sucesso dos empreendimentos e negócios;
d) Assegurar a empregabilidade e a competitividade dos indivíduos no mercado de trabalho;
e) Garantir a sustentabilidade do progresso;
f) Promover a realização pessoal e social dos indivíduos.

É, com efeito, pela via da Formação Profissional que se criam condições para que se logre a eficiência e a eficácia da economia e das empresas, condição necessária para que se possam gerar empregos que assegurem a realização pessoal e social dos indivíduos, nomeadamente dos que procuram o primeiro emprego ou optimizar as condições de sua integração no mundo laboral, cada vez mais exigente e competitivo.

A aposta estratégica na Formação Profissional só será bem sucedida na medida em que for assumida como desafio de toda a sociedade e, em particular, das empresas.

Ora bem, o sucesso dos empreendimentos e negócios é largamente tributário da qualidade da Formação Profissional.

Interessa, pois, aos empresários de sucesso que apostem na qualificação e no aperfeiçoamento permanentes dos recursos humanos.

Se a excelência nos negócios constitui um desafio permanente, tal excelência só é possível através da Qualificação, razão por que a Formação Profissional encontra ou deve encontrar nas empresas os seus mais fiéis e dilectos promotores….

Fiquemos, no entanto, cientes do seguinte: as parcerias não são sinónimas de dádivas. As parcerias implicam partilha: dar e receber. Por mais filantrópica que seja uma empresa ou instituição, a sua participação num projecto, como parceira, não é propriamente desinteressada. Existe sempre a expectativa de um retorno, mesmo que a motivação não seja a obtenção de dinheiro! É esse interesse, quer sob a forma de lucro económico ou de lucro social (ampliação do prestígio no meio, angariação de simpatia ou boa imagem, satisfação de realizar algo socialmente útil, etc), que serve de leitmotiv para a participação num dado projecto. Assim, o simples desejo de fazer de uma escola degradada uma escola nova e bem sucedida é já, de per si, um interesse, uma motivação suficientemente forte para justificar a parceria de uma empresa.

Daí que a estratégia de mobilização dos parceiras deva ser aprimorada, utilizando-se, para o efeito, princípios, regras e técnicas, que são, de há muito, objecto de estudo. Não vamos alongar-nos nesta matéria, mas sempre diremos que o envolvimento do parceiro deve fazer-se em relação a todas as etapas do processo em que ele, de algum modo, participa: da concepção de um projecto à sua implementação, gestão e avaliação. Assim se valorizará o parceiro que não se sentirá suficientemente motivado em “dar” ou “financiar” algo. Se é parceiro, deve ser parte do processo, de forma tão abrangente quanto possível ou recomendável!...

Cabo Verde apostou, decidida e irreversivelmente, no desenvolvimento de uma economia de base privada. Assim, se ao Estado incumbe regular o mercado, estimular e promover os empreendimentos (induzindo, desta forma, à empregabilidade), cabe às empresas, em última instância, assegurar que a economia se desenvolva de forma sustentável e, desta forma, garantir o sucesso da luta contra a pobreza e o desemprego, os dois maiores problemas nacionais. Porém o sucesso das empresas está largamente da aposta consequente que fizerem na formação do seu pessoal, ou seja, na Formação Profissional.

Como dizia Bill Gates, a maior riqueza da sua poderosa Microsoft Corporation, era o pessoal da empresa, devidamente qualificado e altamente motivado, e não os biliões que obtinha dos negócios. Pois, afinal, os biliões são criados pelo trabalho competente e inovador do seu pessoal…


Bartolomeu Varela
* Extractos de uma conferência proferida no “Centro de Formação Profissional da Variante”, de São Domingos, no dia 14 de Julho último, no âmbito da comemoração do primeiro aniversário desta instituição de formação.


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publicado às 13:59


1. Aposta na Formação: alternativa a uma educação fracassada ou um novo paradigma de Qualificação dos Recursos Humanos?

Para alguns, a ênfase que vem sendo colocada na Formação Profissional, enquanto aposta estratégica e via incontornável para a modernização das economias e o fomento da empregabilidade, não deixa de representar a confissão implícita de um fracasso ou, ao menos, de uma crise monumental: a crise dos sistemas educativos.

Na verdade, entendem, a Educação de sucesso implica e envolve preparação para o exercício de uma profissão, ou seja, tem como fim último a Formação Profissional. Nesta perspectiva, a necessidade de criar um sistema de Formação Profissional dever-se-á ao facto de que o sistema educativo não satisfaz às demandas da economia e da sociedade, não preparando adequadamente para a vida activa…

Realmente, na sua concepção mais avançada, a Educação é um processo através do qual os indivíduos, através do acesso ao conhecimento e ao saber, adquirem competências para a vida. Daí que, facilmente, se dê conta de que a educação implica a formação. Assim o foi desde o surgimento da sociedade humana, havendo mesmo quem defenda que a educação-formação está na origem do surgimento do próprio homem como entidade distinta dos restantes animais. A luta conjunta dos homens primitivos para a sobrevivência; a invenção de signos linguísticos e sua utilização na comunicação; a descoberta e a utilização do fogo (para alimentação, aquecimento, iluminação, etc.), a descoberta e a prática da agricultura e da pecuária – tais são alguns factos históricos que, tendo conduzido à promoção da humanidade, só foram possíveis através da praxe educacional, que há de prosseguir, por via da tradição, de geração para geração…

Hodiernamente, as teses mais avançadas sobre a educação convergem no sentido de que uma educação pautada pela excelência tem que cumprir cinco funções essenciais, que desenvolvemos noutro local, a saber:
a) Desenvolver intelectual, moral e socialmente os alunos, sejam eles crianças ou adultos;
b) Promover o desenvolvimento da cultura geral;
c) Desenvolver e promover a aquisição de mecanismos ou automatismos básicos de aprendizagem; d) Formar e capacitar para a vida activa e para o exercício da cidadania;e) Promover a orientação vocacional e preparar os cidadãos para o exercício de uma profissão.

A última função da educação reconduz-nos à questão inicial: a formação profissional será componente ou corolário de uma educação bem sucedida.

As políticas de educação e de formação, concebidas e implementadas por departamentos governamentais diferentes, têm levado, amiúde, à exacerbação das disparidades entre a educação e a formação, quando as mesmas não podem ser consideradas como mundos à parte, “a se”, mas sim como actividades afins ou, no mínimo, absolutamente complementares.

As acções e medidas de política no sentido de se promover uma articulação estreita entre a educação e a formação; as reformas conducentes à criação de condições para que o chamado sistema de ensino formal, sobretudo a nível secundário ou pós-secundário, desenvolva a componente da formação técnicoprofissional; o estabelecimento de mecanismos de transição e de de equivalências entre o sistema formal de ensino e o sistema de formação profissional – tais são algumas das opções de políticas públicas que traduzem um novo paradigma de abordagem da problemática de qualificação dos recursos humanos.

É esse o paradigma adoptado em Cabo Verde.

À luz desse paradigma, importa que se avance em duas direcções que não são opostas mas convergem no mesmo sentido:

Por um lado, importa que as reformas educativas aprofundem o significado pleno da abordagem por competências, fazendo com que as escolas, no desenvolvimento da acção educativa, saibam:

- Aliar o saber universal ao conhecimento aprofundado e progressivo da realidade em que os educandos se inserem e que deverão transformar;

- Assegurar a ligação entre a teoria (o conhecimento científico), a pesquisa e a prática, relevando a utilidade, a validade e pertinência social dos saberes;

- Potenciar a inovação e a aprendizagem social;

- Colocar, em suma, a necessária ênfase nas seguintes regras de ouro da aprendizagem que são “aprender a aprender”, “aprender a ser”, “aprender a empreender” e “aprender a desaprender”!...

Por outro lado, o sistema de formação profissional, que se orienta no sentido do desenvolvimento da capacidade empreendedora dos indivíduos, deve articular-se com o sistema educativo, quer na perspectiva da transição entre os dois sistemas, quer no sentido da complementaridade de ambos…

A esta luz, a formação profissional apresenta-se como uma opção ou uma via credível para o sucesso dos indivíduos, tanto no plano pessoal como no social …

2. As parcerias e sua relevância na Formação Profissional

As parcerias nacionais e internacionais, nas suas diversas combinações (parcerias entre organizações públicas; parcerias entre entidades privadas e parcerias entre organizações públicas e privadas) encontram-se muito em voga, na actualidade.

Em Cabo Verde, as parceiras público-privadas, que se assentam numa tradição secular em processo de profunda mutação (o chamado “djunta mó”) não resultam apenas de uma tomada de consciência (porventura tardia) de que é impossível aos poderes públicos, de forma isolada, fazerem face e com sucesso, aos desafios inerentes ao processo de transformação e de desenvolvimento do país.

Tais parcerias constituem, na verdade, uma exigência natural do processo de desenvolvimento, só possível se assumido pela sociedade, no seu todo…

No domínio da formação profissional, as parcerias (envolvendo o Estado, as autarquias, as empresas, os formandos e outras entidades) estão largamente acolhidas no ordenamento jurídico e têm estado presentes em diversos programas e projectos de governação e de gestão empresarial. Este facto deriva do reconhecimento da necessidade da Formação Profissional, enquanto via incontornável para que, mediante a transformação do homem cabo-verdiano em capital humano, se alcancem objectivos estratégicos, a saber:

a) Desenvolver a capacidade empreendedora da sociedade;
b) Garantir a performance da economia;
c) Promover o sucesso dos empreendimentos e negócios;
d) Assegurar a empregabilidade e a competitividade dos indivíduos no mercado de trabalho;
e) Garantir a sustentabilidade do progresso;
f) Promover a realização pessoal e social dos indivíduos.

É, com efeito, pela via da Formação Profissional que se criam condições para que se logre a eficiência e a eficácia da economia e das empresas, condição necessária para que se possam gerar empregos que assegurem a realização pessoal e social dos indivíduos, nomeadamente dos que procuram o primeiro emprego ou optimizar as condições de sua integração no mundo laboral, cada vez mais exigente e competitivo.

A aposta estratégica na Formação Profissional só será bem sucedida na medida em que for assumida como desafio de toda a sociedade e, em particular, das empresas.

Ora bem, o sucesso dos empreendimentos e negócios é largamente tributário da qualidade da Formação Profissional.

Interessa, pois, aos empresários de sucesso que apostem na qualificação e no aperfeiçoamento permanentes dos recursos humanos.

Se a excelência nos negócios constitui um desafio permanente, tal excelência só é possível através da Qualificação, razão por que a Formação Profissional encontra ou deve encontrar nas empresas os seus mais fiéis e dilectos promotores….

Fiquemos, no entanto, cientes do seguinte: as parcerias não são sinónimas de dádivas. As parcerias implicam partilha: dar e receber. Por mais filantrópica que seja uma empresa ou instituição, a sua participação num projecto, como parceira, não é propriamente desinteressada. Existe sempre a expectativa de um retorno, mesmo que a motivação não seja a obtenção de dinheiro! É esse interesse, quer sob a forma de lucro económico ou de lucro social (ampliação do prestígio no meio, angariação de simpatia ou boa imagem, satisfação de realizar algo socialmente útil, etc), que serve de leitmotiv para a participação num dado projecto. Assim, o simples desejo de fazer de uma escola degradada uma escola nova e bem sucedida é já, de per si, um interesse, uma motivação suficientemente forte para justificar a parceria de uma empresa.

Daí que a estratégia de mobilização dos parceiras deva ser aprimorada, utilizando-se, para o efeito, princípios, regras e técnicas, que são, de há muito, objecto de estudo. Não vamos alongar-nos nesta matéria, mas sempre diremos que o envolvimento do parceiro deve fazer-se em relação a todas as etapas do processo em que ele, de algum modo, participa: da concepção de um projecto à sua implementação, gestão e avaliação. Assim se valorizará o parceiro que não se sentirá suficientemente motivado em “dar” ou “financiar” algo. Se é parceiro, deve ser parte do processo, de forma tão abrangente quanto possível ou recomendável!...

Cabo Verde apostou, decidida e irreversivelmente, no desenvolvimento de uma economia de base privada. Assim, se ao Estado incumbe regular o mercado, estimular e promover os empreendimentos (induzindo, desta forma, à empregabilidade), cabe às empresas, em última instância, assegurar que a economia se desenvolva de forma sustentável e, desta forma, garantir o sucesso da luta contra a pobreza e o desemprego, os dois maiores problemas nacionais. Porém o sucesso das empresas está largamente da aposta consequente que fizerem na formação do seu pessoal, ou seja, na Formação Profissional.

Como dizia Bill Gates, a maior riqueza da sua poderosa Microsoft Corporation, era o pessoal da empresa, devidamente qualificado e altamente motivado, e não os biliões que obtinha dos negócios. Pois, afinal, os biliões são criados pelo trabalho competente e inovador do seu pessoal…


Bartolomeu Varela
* Extractos de uma conferência proferida no “Centro de Formação Profissional da Variante”, de São Domingos, no dia 14 de Julho último, no âmbito da comemoração do primeiro aniversário desta instituição de formação.


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publicado às 13:59

Ei-los que partem… os finalistas!

por Bartolomeu Varela, em 27.07.07

“Flores da nossa luta, razão do nosso combate… O mais maravilhoso que há no mundo. Devemos dar-lhes o melhor que temos”! Assim se referia Amílcar Cabral às crianças, no seu tempo, que é também o nosso tempo, tanto mais que as suas palavras expressam um pensamento e uma orientação que continuam actuais.

Assim pensava eu quando assistia, dias atrás, a uma festa de finalistas do jardim infantil que o meu filho Márcio frequentou nos últimos dois anos, cumprindo uma etapa importante da sua vida: a de socialização no ambiente educativo extra-familiar e de propedêutica para a iniciação escolar propriamente dita, que tem lugar no ensino básico.

Gostei, particularmente, da opção feita em relação ao traje para a festa dos finalistas: em vez de trajes de um dia que, depois, são deitados fora, os finalistas apresentaram-se vestidos com o uniforme que vão utilizar, daqui a meses, como alunos do ensino básico, o que representa uma poupança aos bolsos das famílias. Bela ideia, sem dúvida!

Todos dizemos que virou moda a festa de finalista, não sendo poucos os que criticam esta moda, que outrora só era praticada no fim do ensino secundário ou, sobretudo, de um curso superior!

O cabo-verdiano gosta de festas! É isso que, segundo outros, explica tanta festa de finalistas!
Realmente, o cabo-verdiano adora festas: o nascimento de um filho, o 7º dia do nascimento (“Dia do Sete” ou de “Guarda-cabeça”, para esconjurar perigos ocultos!), casamento, baptizado, regresso de emigrante, dia de município, dia de santo padroeiro de freguesia, dia de Natal, dia de Fim-de-Ano, dia de Páscoa… Já imaginou em quantas festas o cabo-verdiano participa em cada ano?

Não há dúvida que, não poucas vezes, há um enorme exagero nos gastos com festas! Mas convenhamos que é também com festas (dentro dos limites, é claro) que se constrói a felicidade! A alegria de viver, bem patente nas festas, pode ser um lenitivo ou um incentivo para enfrentar as dificuldades da vida e obter, pelo trabalho honesto, recursos para serem investidos em muitos projectos, incluindo … novas festas!

Mas voltemos à festa de finalistas do jardim do meu filho caçula (ver imagem neste blog).

Simples moda ou expressão da cultura de um povo dado a festas, foi maravilhoso assistir a essa festa de finalistas e, assim, poder testemunhar como os pupilos daquele jardim-de-infância e candidatos ao ensino básico encaravam esse dia de finalista, que marca uma etapa importante na sua vida: muito entusiasmo, muita alegria e, vejam lá, muita seriedade!

Deixá-los festejar, porque não lhes falece motivo para tanto!- pensava eu, enquanto assumia o papel de repórter da festinha, além do de pai!

Vencendo a primeira etapa, irão vencer as outras, com novas festas de finalistas a coroar os êxitos académicos! Festas que valem sempre a pena, sobretudo se o culminar de cada etapa se traduzir em ganhos efectivos, em prol do progresso social e individual, prova final do sucesso da obra educativa que se desenvolve em Cabo Verde.

Ei-los que partem, os finalistas, para novas etapas e novos desafios na sua vida académica e social, em que a alegria de viver deve estar presente, a par de uma postura responsável que deve caracterizar a vida estudantil e, em geral, a vida societária.

Bartolomeu Varela

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publicado às 06:53

Ei-los que partem… os finalistas!

por Bartolomeu Varela, em 27.07.07

“Flores da nossa luta, razão do nosso combate… O mais maravilhoso que há no mundo. Devemos dar-lhes o melhor que temos”! Assim se referia Amílcar Cabral às crianças, no seu tempo, que é também o nosso tempo, tanto mais que as suas palavras expressam um pensamento e uma orientação que continuam actuais.

Assim pensava eu quando assistia, dias atrás, a uma festa de finalistas do jardim infantil que o meu filho Márcio frequentou nos últimos dois anos, cumprindo uma etapa importante da sua vida: a de socialização no ambiente educativo extra-familiar e de propedêutica para a iniciação escolar propriamente dita, que tem lugar no ensino básico.

Gostei, particularmente, da opção feita em relação ao traje para a festa dos finalistas: em vez de trajes de um dia que, depois, são deitados fora, os finalistas apresentaram-se vestidos com o uniforme que vão utilizar, daqui a meses, como alunos do ensino básico, o que representa uma poupança aos bolsos das famílias. Bela ideia, sem dúvida!

Todos dizemos que virou moda a festa de finalista, não sendo poucos os que criticam esta moda, que outrora só era praticada no fim do ensino secundário ou, sobretudo, de um curso superior!

O cabo-verdiano gosta de festas! É isso que, segundo outros, explica tanta festa de finalistas!
Realmente, o cabo-verdiano adora festas: o nascimento de um filho, o 7º dia do nascimento (“Dia do Sete” ou de “Guarda-cabeça”, para esconjurar perigos ocultos!), casamento, baptizado, regresso de emigrante, dia de município, dia de santo padroeiro de freguesia, dia de Natal, dia de Fim-de-Ano, dia de Páscoa… Já imaginou em quantas festas o cabo-verdiano participa em cada ano?

Não há dúvida que, não poucas vezes, há um enorme exagero nos gastos com festas! Mas convenhamos que é também com festas (dentro dos limites, é claro) que se constrói a felicidade! A alegria de viver, bem patente nas festas, pode ser um lenitivo ou um incentivo para enfrentar as dificuldades da vida e obter, pelo trabalho honesto, recursos para serem investidos em muitos projectos, incluindo … novas festas!

Mas voltemos à festa de finalistas do jardim do meu filho caçula (ver imagem neste blog).

Simples moda ou expressão da cultura de um povo dado a festas, foi maravilhoso assistir a essa festa de finalistas e, assim, poder testemunhar como os pupilos daquele jardim-de-infância e candidatos ao ensino básico encaravam esse dia de finalista, que marca uma etapa importante na sua vida: muito entusiasmo, muita alegria e, vejam lá, muita seriedade!

Deixá-los festejar, porque não lhes falece motivo para tanto!- pensava eu, enquanto assumia o papel de repórter da festinha, além do de pai!

Vencendo a primeira etapa, irão vencer as outras, com novas festas de finalistas a coroar os êxitos académicos! Festas que valem sempre a pena, sobretudo se o culminar de cada etapa se traduzir em ganhos efectivos, em prol do progresso social e individual, prova final do sucesso da obra educativa que se desenvolve em Cabo Verde.

Ei-los que partem, os finalistas, para novas etapas e novos desafios na sua vida académica e social, em que a alegria de viver deve estar presente, a par de uma postura responsável que deve caracterizar a vida estudantil e, em geral, a vida societária.

Bartolomeu Varela

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A história de uma pesquisa na Internet

por Bartolomeu Varela, em 24.07.07
Há uns anos, propus aos meus alunos de determinada turma, de um dado curso superior, que realizassem trabalhos de pesquisa sobre diversos temas, de entre os quais a "evolução dos paradigmas ou modelos de Inspecção Educativa".

O grupo que escolheu este tema apresentou, em tempo recorde, um trabalho que, ao ler, descobri, imediatamente, ser um texto meu.

Já me esquecera de que esse texto era um dos vários trabalhos que eu havia enviado, por e-mail, a um colega estrangeiro, que mos solicitara, no âmbito do intercâmbio de trabalhos académicos que vínhamos fazendo.

Por isso, não foi sem surpresa que recebi como alegado trabalho de pesquisa esse texto meu que, do princípio ao fim, não tinha sofido qualquer alteração, a não ser, é claro, as menções da praxe: curso, ano, turma, disciplina e lista dos participantes.

No intervalo, interpelei o responsável do grupo:
- Recebi o “vosso” trabalho, mas não gostei nada do que me aprontaram!
- Porquê, professor? É um bom trabalho!
- Obrigado pelo elogio, mas pedi um trabalho vosso! - retorqui.
- Mas é claro que é nosso: fizemos uma pesquisa na Internet e…
- O quê?! – Interrompi-o, lembrando-me, então, de que o meu colega me tinha perguntado se não me importava que ele publicasse no site da sua universidade, como colaboração minha, alguns dos textos que eu lhe enviara.
- Pois é, prof…
-Pois é, os senhores foram copiar um trabalho meu, publicado na Internet, para, de se seguida, mo apresentarem como de vossa autoria! Uma grande proeza, não?
- …
- Têm mais uma semana para me apresentarem um trabalho vosso, sob pena de receberem zero valores em trabalho de pesquisa. Estamos conversados! - disse eu, entre zangado e divertido.

Os “malandros” pesquisadores nem sequer se tinham dado ao trabalho de ler, no canto inferior direito do texto cabulado, a seguinte anotação: "colaboração do docente Bartolomeu L. Varela, Inspector da Educação"...

Bartolomeu Varela

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publicado às 18:04

Português, um problema!

por Bartolomeu Varela, em 07.07.07

Há vários anos atrás, acompanhado de um inspector, efectuei uma visita de supervisão pedagógica a uma determinada escola do ensino básico da capital cabo-verdiana.

Antes de iniciarmos a visita às aulas, dirigimo-nos, como é da praxe, ao gabinete da gestora, que nos recebeu, com simpatia, a fim de lhe apresentarmos os objectivos da acção inspectiva e recebermos algumas informações de que precisávamos.

Porque as primeiras impressões eram favoráveis – a boa aparência externa da escola, a higiene no espaço circundante, a ordem que se vislumbrava na secretaria e o ambiente acolhedor do gabinete da gestora –, a conversa com a gestora começou com um elogio, quanto mais não fosse para colocar à-vontade a nossa interlocutora:
- Aqui nos tem, senhora Gestora!- disse-lhe eu. Estamos aqui para, de algum modo, contribuirmos para elevar, ainda mais, a qualidade de desempenho da sua escola. No entanto, pelo que estou ver, se calhar, esta escola não terá muitos problemas!...
- Oh! Sr. inspector, por acaso, aqui nós temos VÁRIAS PROBLEMAS!
- Pronto! Eis o primeiro problema da escola: a dificuldade da gestora em expressar-se, correctamente, na língua de Camões! - segreda-me, ao ouvido, o meu colega.
- Enfim, espero que os professores não tenham o mesmo problema – retorqui, para comigo….

Mas, durante a supervisão das aulas, a minha secreta esperança não passou disso mesmo: uma esperança que não correspondia à realidade! Tal gestora, tais professores, tais alunos!...

Enfim, lá nos esforçámos, ao longo da visita, por deixar sugestões práticas sobre a metodologia mais adequada de ensino-aprendizagem da língua portuguesa num país em que esta língua, sendo oficial, não é, todavia, a língua materna…


Bartolomeu Varela

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publicado às 15:52

O senhor Auditor!

por Bartolomeu Varela, em 07.07.07

Supostamente, a introdução da auditoria nas instituições educativas deveria constituir um passo de grande alcance no processo de promoção da excelência do serviço educativo. Com efeito, a auditoria, que se apoia em métodos e procedimentos científicos e em normas universalmente aceites, visa aferir o grau de eficiência e eficácia das escolas e formular propostas de melhoria.


Ao contrário das modalidades de fiscalização (como a averiguação, o inquérito ou a sindicância), que podem desembocar em medidas de efectivação de responsabilidade disciplinar, a auditoria não tem propósitos punitivos, não visa reprimir os agentes educativos, mas sim ajudá-los, por um lado, a manter, consolidar ou melhorar os aspectos positivos do seu desempenho e, por outro, tomar consciência dos seus pontos fracos e das formas de os superar.

Teoricamente é assim e, na prática, existem muitos bons exemplos a confirmar a teoria. Todavia, nem sempre as experiências de implementação das auditorias têm sido as melhores, por causas as mais diversas, de entre as quais relevam: o défice de formação dos que realizam as auditorias (inspectores, coordenadores e outros); a insuficiente informação dos entes a serem auditados (gestores, docentes e outros agentes educativos). Na verdade, mais vale prescindir de realizar auditorias, nas suas múltiplas modalidades, do que levá-las a cabo de forma incorrecta ou sem que as condições necessárias sejam reunidas.

A seguinte anedota, ao que me disseram verídica, mostra como a implementação apressada ou improvisada de novos métodos no sistema educativo pode ter efeitos contrários aos pretendidos:

Num país europeu, o gestor recebe uma nota da Inspecção Educativa informando-o de que, uma semana depois, seria realizada uma auditoria à sua escola e que o auditor era um fulano que era inspector de educação, por sinal dos mais graduados.

Desconhecendo o que era, verdadeiramente, um auditor – mas, tendo, no passado, recebido uma visita inspectiva que foi para ele uma dura prova–, o nosso gestor passou uma semana de tormento, tão grande era o receio de ser apanhado em falta pelo auditor.

No dia em que deveria iniciar-se a auditoria, o gestor apresentou-se, pontualmente, na escola e dirigiu-se ao seu gabinete, não sem antes instruir a chefe de secretaria no sentido de mandar entrar o auditor logo que ele chegasse.

Minutos depois, aparece um sujeito de aparência distinta, com óculos escuros e uma pasta na mão. Dirige-se, secamente, à chefe de secretaria:
- O senhor gestor, por favor! …
- Venha comigo, está à sua espera!

A chefe de secretaria encaminha-o, de imediato, ao gabinete do gestor. Abre a porta e anuncia:
- O senhor auditor!

O gestor suava em bicas! Atarantado, e aos tropeções, tenta erguer-se da cadeira para balbuciar um cumprimento ao visitante, mas é abruptamente interrompido por este, que lhe ordena, com cara de poucos amigos, ao mesmo tempo que lhe aponta uma pistola, saída meteoricamente do bolso do casaco:
- Quieto! Este é um assalto. Quero todo o dinheiro que guarda nesse cofre!
- Quê?! Ah! Ah! Ah!... Ah! Ah! Ah – desata em grande gargalhada o gestor, surpreendendo o ladrão, que não esperava tal reacção.
- …?
- E eu que pensava que era o auditor! – diz o gestor. Faça o favor!
E encheu a pasta do ladrão, com alívio e secreta alegria, por, afinal, não ter sido alvo de uma auditoria mas sim de um roubo.

Esta, hein?
Bartolomeu Varela

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publicado às 14:47


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